Viajar é uma soma de experiências enriquecedoras, ainda mais quando se adentra em uma cultura bastante diferente da sua. Muitos brasileiros quando vão para o Japão pela primeira vez ficam encantados com a diversidade de atividades que se pode realizar por lá e que reforçam boas lembranças.
Uma das formas de fazer uma viagem emocionante e trazer uma recordação afetiva pode ser através da comida. O Turismo Gastronômico, segundo a OMT (Organização Mundial de Turismo), é o terceiro principal propósito de viagens apontado pelos turistas. Nessa modalidade é possível se conhecer mais sobre a história e cultura local experimentando a culinária típica.
E curiosamente, o chá japonês é um dos destaques desta categoria de turismo para quem deseja se aprofundar mais na essência do Japão.
Chá japonês, panorama
Mesmo que muitas bebidas sejam conhecidas popularmente por chá, a maioria delas é considerada uma infusão. O chá propriamente dito vem apenas de uma planta, conhecida como Camellia Sinensis, dela se originam os chás: verde, branco, preto, amarelo, escuro e o oolong (chinês).
O consumo do chá verde foi levado ao Japão por monges budistas da China ao fim do século XII. E, embora haja a cerimônia do chá chinesa, o Japão ficou mais conhecido por esta arte pelo mundo.
Muitos turistas querem participar da cerimônia do chá japonesa pela tradição e para desfrutar da experiência e da harmonização com a comida servida. Este ritual é encontrado apenas em casas de chá (chashitsu) que tem especificamente este fim.
Dentro do que conhecemos como chá verde, há diferentes formas de consumi-lo,- como bebida ou sobremesa -, por exemplo, dependendo da trituração, torra da folha ou sua colheita. E conforme é seu processo de produção, o nome se altera, sendo o mais consumido na cerimônia do chá o matchá, e o mais consumido no país, o senchá.
Casas de chá
Em uma casa de chá típica, o piso é de tatame com um fogareiro embutido. Há uso de materiais rústicos na decoração do ambiente, além da utilização de utensílios tradicionais. No Japão, é possível encontrá-las em diferentes locais do país, sendo algumas das mais conhecidos a Casa de Chá Somaro Maiko, em Yamagata, a Casa de Chá Ninomaru, em Shizuoka e a Casa de chá Tsuda Chaho, em Tottori.
Se preferir, pode-se visitar lojas especializadas que servem o chá tradicional e outros tipos, além de vender pacotes para consumir a bebida em casa. A loja mais antiga do Japão, Tsuen Chaya, fica em Quioto e existe desde 1160, período dos samurais.
Palavra da especialista
Segundo a sommelière de chá, Patrícia Akemi, conhecer a relação dos japoneses com o chá é entender um elo que conecta história, cultura, gastronomia e arte. A presença da bebida na rotina dos japoneses é quase intrínseca. Ela é consumida ao longo do dia, seja nas principais refeições, até em uma pausa na rotina do trabalho ou estudo. O consumo do chá não se limita apenas à ingestão de uma bebida, mas também pela sensação de conforto que ela proporciona.
Quando falamos em chá japonês, logo vem à mente o chá verde. E, sim, esta é a categoria de chás predominante no país. Diferentemente do chá preto, que também vem da planta Camellia sinensis, o chá verde passa por um processo que impede a oxidação de suas folhas, fazendo com que a bebida mantenha seu frescor no aroma e no sabor, e a cor mais clara e esverdeada. Há diversos tipos e subtipos de chás verdes, cada um com a sua peculiaridade no plantio, colheita, processamento ou preparo. Alguns dos tipos de chás verdes mais populares no Japão são: o sencha, que representa mais de 70% do volume consumido; o Hojicha, cujas folhas são tostadas; e o matchá, que é um chá bastante especial e versátil, e que hoje em dia é consumido de diversas maneiras, como na cerimônia japonesa do chá e, até mesmo, em preparações culinárias doces ou salgadas.
Patrícia ressalta que qualquer viajante que vai conhecer o Japão pode se entreter com o rico universo em torno desta bebida milenar. Para os iniciantes, ela sugere que comecem aceitando o chá servido nos restaurantes, juntamente com as refeições, pois harmonizam perfeitamente com a comida, trazendo uma experiência gastronômica verdadeiramente nipônica. Outra sugestão seria aproveitar a pausa para o chá durante o dia, escolhendo uma das diversas opções da bebida nas máquinas automáticas (jidouhanbaiki) espalhadas pelo país.
Porém, se você já é fã da bebida e quer se aprofundar ainda mais, uma experiência interessante e com alto valor cultural é participar de uma cerimônia do chá em casas especializadas, há diversas delas principalmente nas cidades mais turísticas como Quioto. Também é possível tomar um chá delicioso e preparado com todo cuidado em casas conhecidas como tea cafes (que podem ser comparadas às nossas cafeterias conceito), onde o chá é o protagonista. Em algumas delas são oferecidas experiências de workshops de curta duração ou sessões de degustação, com inscrições feitas com antecedência.
E, a nível de curiosidade, a sommelière contou também que os japoneses também tomam outros tipos de chás e infusões. Um exemplo é o milk tea, que também é bastante apreciado no país, sendo a bebida a base de chá preto, misturada com leite.
O muguicha (chá de cevada) e o soba cha (chá de trigo sarraceno) são duas infusões bastante populares no país e ótimas opções para quem quer evitar a cafeína.
Um dia nas fazendas de chá
Há muitas áreas que cultivam o chá verde no Japão, como as regiões de Quioto, Mie, Fukuoka ou Shizuoka. Esta última, conta com 40% do total da produção nacional, e em algumas dessas fazendas é permitida a entrada de visitantes para degustar a bebida, tirar fotos ou fazer os workshops e até realizar estágios para aprender a arte do cultivo e do preparo dos tipos de chá.
Conforme as pessoas provam os chás feitos com folhas das diferentes plantações, conseguem distinguir a diferença de sabor entre eles, tornando o passeio uma experiência sensorial ainda mais divertida: são cores, aromas e sabores únicos. Em Shizuoka, as produtoras com opções de passeio para turistas são: Chapia, Grinpia Makinohara, Yamakashoen (checar datas e reservas antes de ir).
Quanto aos tours, Chapia e Yamakashoen oferecem serviço em japonês apenas, mas tentam dar o melhor atendimento para quem não fala a língua, já a Grinpia tem atendimento em inglês.
Em Quioto, a fazendo Obubu Tea Farm também oferece um tour e workshop, e em Gifu há a famosa Sky Tea Garden onde os turistas podem percorrer uma rota que apresenta as plantações locais, pode-se beber chá e tirar lindas fotos.